A escrita e os textos permitem variadas expressões tanto ao leitor, quanto ao escritor.
E no meio da comunidade negra isso não é diferente, temos uma gama de escritores extremamente talentosos e um enorme número de leitores que anseiam por conhecimento, representatividade e entretenimento.
Em 1861, no dia 24 nascia um dos maiores nomes do simbolismo, João Da Cruz e Sousa.
Filho de ex-escravos ficou sob a proteção dos antigos donos de seus pais, após receberem alforria. Por conta disso recebeu uma educação acadêmica de alto nível no Liceu previdencial de Santa Catarina, adquiriu o sobrenome "Sousa" que é advindo de seu ex-patrão que demonstrava certa gratidão aos pais do escritor.
Mesmo obtendo alguns privilégios a mais do que a maioria dos negros da época, João sofreu inúmeras represálias e lidou ferozmente com o racismo, que naquele tempo era muito mais evidente e caótico.
Sua inclinação para artes, línguas e literatura, possibilitaram a ele agregar uma série de conhecimentos que em pouco tempo trouxeram bons frutos, ele trabalhou como escritor no jornal abolicionista ''Tribuna Popular", além de ter sido diretor do mesmo.
Sua capacidade intelectual era aguçada, e com toda certeza era extremamente competente, quase chegou a ser promotor público em Laguna SC, porém foi impedido devido as represálias racistas da época.
Anos depois se mudou para o Rio de Janeiro, onde foi colaborador do jornal "Folha Popular" e das revistas "Ilustrada" e "Novidades''. Suas participações na maioria das vezes dentre esses folhetins se dava por pautar racismo e preconceito racial, seus posicionamentos eram pontuais e relevantes já que o próprio passava por situações de preconceito diariamente.
Ainda no Rio de Janeiro, casou-se com Gavita Gonçalves, com quem teve 4 filhos, infelizmente todos tiveram um fim precoce já que foram acometidos da tuberculose, doença gravíssima naquele tempo. Rodeado da tristeza, solidão e escuridão Cruz e Sousa começou a expressar seus sentimentos e sensações em meio aos poemas de sua autoria.
Suas obras ficaram marcadas pela musicalidade, subjetivismo, individualismo, pessimismo, misticismo e espiritualidade. Um conjunto de sentimentos que representavam sua vida e realidade, principalmente no presente momento de tantas perdas.
Acometido também pela tuberculose, o poeta se mudou para Minas Gerais, na cidade de Curral Novo, onde buscava por uma melhoria na saúde. Mas já era tarde visto que além da doença, seu emocional e saúde mental já estavam bem prejudicadas, além do grande histórico de preconceito vivido e grandes perdas, o ilustre "Dante Negro" faleceu prematuramente aos 36 anos.
Apesar da morte prematura, Cruz e Sousa deixou um extenso legado, e se tornou um dos nomes mais importantes do simbolismo, além disso foi um dos precursores de discursos abolicionistas. Todos esses feitos foram conquistados com muito esforço, persistência e coragem.
Ser um negro de sucesso pode ser difícil e árduo, mas não impossível.
Confira a baixo uma das obras do poeta :
Confira a baixo uma das obras do poeta :
LIVRE
Livre! Ser livre da matéria escrava,
arrancar os grilhões que nos flagelam
e livre penetrar nos Dons que selam
a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.
Livre da humana, da terrestre bava
dos corações daninhos que regelam,
quando os nossos sentidos se rebelam
contra a Infâmia bifronte que deprava.
Livre! bem livre para andar mais puro,
mais junto à Natureza e mais seguro
do seu Amor, de todas as justiças.
Livre! para sentir a Natureza,
para gozar, na universal Grandeza,
Fecundas e arcangélicas preguiças.
-Yago Neves
Referencias:
Disponível em: <https://www.google.com/amp/s/m.brasilescola.uol.com.br/amp/literatura/cruz-sousa.htm> Último acesso 27/08/20.
Disponível em : <https://www.todamateria.com.br/cruz-e-souza/> Último acesso 27/08/20.
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