segunda-feira, 15 de junho de 2020

Matemática Africana quando e onde ?



Willian José da Cruz[1]
Silvia Patrícia da Silva Pereira[2]
Ana Cristina Silva Pereira [3]



Matemática Africana quando e onde? Esta questão parece muito pertinente. Quando e onde está sendo discutida a Matemática Africana no ambiente escolar? Nas aulas de Matemática? Este texto está baseado nos trabalhos de conclusão de curso de Ana Cristina e Silvia Patrícia, orientada e co-orientada por Willian Cruz, que fizeram estudos sobre a Matemática Egípcia no ensino de Matemática e o multiculturalismo com ênfase na introdução da Matemática Africana no ensino.

A Lei nº 10.639/2003 tornou obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira, bem como da história da África e dos africanos nas escolas públicas e privadas do Brasil. Essa temática, na maioria das vezes, fica restrita à disciplina de história, em sua grande maioria, mas deveria perpassar todas as disciplinas. Não podemos responder por outras disciplinas, mas em relação à Matemática, o que se percebe é que não há um trabalho explícito nesta direção. 

Na América Latina, as lutas pelo reconhecimento das diferenças sociais e culturais possuem uma longa história. Um marco significativo desta história se instaura no Brasil com a constituição de 1988 e sua defesa a favor do multiculturalismo brasileiro.

No Brasil, vivemos em uma sociedade composta por distintas raças, religiões e padrões culturais. Nesse conjunto de diferenças surgem os conflitos.  Parte deste problema é reflexo da imposição de uma cultura e/ou uma raça que a sociedade e consequentemente a escola apresenta sobre outra.
D’Ambrósio (2017), afirma que o multiculturalismo está se tornando a característica mais marcante da educação atual devido à grande mobilidade de pessoas e famílias, e, para ele, as relações interculturais se tornarão muito intensas.


No âmbito educacional, a escola sempre teve dificuldades em lidar com a pluralidade e a diferença. Pois tende a silenciá-las e neutralizá-las. Sentem-se mais confortável com a homogeneização e padronização impostas pelo poder das elites.

 Assim uma das questões fundamentais que são urgentes para serem trabalhadas no cotidiano escolar é a diversidade, pois há a necessidade de proporcionar aos alunos conhecimentos das diversas culturas do país, ampliando o saber nos diversos tipos de manifestações culturais de cada grupo.

As atividades educacionais que produzam conhecimento sobre diversidade cultural, tanto na escola quanto fora dela, são essenciais para ampliar e fortalecer os debates contra a discriminação racial. A escola não pode se tornar um instrumento de reprodução de preconceitos, mas sim um espaço no qual se promova e valorize a diversidade que enriquece a sociedade brasileira.

Como desenvolver esse debate em aulas de Matemática? A História da Matemática nos oferece um campo de discussão bastante significativo para o debate e a valorização de atividades desenvolvidas pelos povos africanos. A Matemática Africana é pouco abordada em aulas de Matemática tanto de escolas públicas quanto de escolas privadas.

Quando nos referimos a História da Matemática, para alguns vem à mente a Matemática  Grega, mas com um olhar mais atento aos nossos estudos, vamos encontrar, por exemplo, os povos egípcios, que quase sempre são tratados como se fossem separados do continente africano. Pouco se observa a relação entre a civilização Egípcia e a África Negra.

Roque e Carvalho (2012) dissertam que entre os povos antigos os egípcios foram bons matemáticos, apesar da ausência de sistematização rigorosa e não empírica. Contudo, entendemos que esta cultura, também tem um amplo saber cientifico.

Katz (1996) disserta que a civilização egípcia data de cinco mil anos ou mais. Embora existam poucos documentos que datam desse período, há evidências arqueológicas de que os egípcios desenvolveram alguns conceitos matemáticos básicos no início do tempo. 

Os principais documentos matemáticos egípcios que existem datam da primeira metade do segundo milênio. Forde (2017) afirma que o Egito Antigo nos concedeu inúmeras fontes que deixam evidentes os registros sobre a anterioridade do desenvolvimento matemático africano. Assim, a Matemática, junto com todo o conhecimento egípcio, chegou a nós por meio dos hieróglifos gravados em papiros. Dentre eles os mais importantes são: o Papiro de Rhind ou Ahmes, datado de 1650 a.C (é um texto matemático na forma de um manual prático, contendo 85 problemas matemáticos), que pode ser visto no Museu Britânico em Londres na Inglaterra; e o Papiro de Moscou com data de 1850 a.C (um texto matemático com 25 problemas matemáticos), localizado no Museu do Estado de Belas Artes Pushkin em Moscou na
Rússia. 

Estudos apontam que há alguns esforços por parte de professores de matemática, na tentativa de realizar inclusões de atividades pedagógicas que envolvam o conhecimento da História da África. No entanto, por vezes a própria instituição não se empenha na promoção de um ensino voltado para a diminuição das desigualdades étnico-raciais.

A influência da cultura africana, favorecendo o ensino e a aprendizado da Matemática, fundamentada numa concepção etnomatemática, pode facilmente ser observada por meio do uso de jogos e materiais concretos, pois esta é uma das maneiras que possibilita a realização de um trabalho transdisciplinar e intercultural nas aulas de Matemáticas.

Para além de todas as técnicas e conhecimentos da Matemática Africana, ressaltamos a urgência na valorização do negro quanto produtor de conhecimento matemático que deu base ao desenvolvimento de várias sociedades, inclusive a nossa.

AUTORES:
 [1] Doutor em Educação Matemática pela Universidade Anhanguera de São Paulo (UNIAN - SP). Professor efetivo do Departamento de Matemática da Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: williancruz990@gmail.com.

[2] Licenciada em Matemática pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, Campus Pouso Alegre – IFSULDEMINAS. E-mail: silviabemol@hotmail.com

[3] Mestranda em Educação em Ciências pela Universidade Federal de Itajubá, Campus Itajubá (UNIFEI). E-mail: thafnes@hotmail.com 


REFERENCIAS:

BRASIL, Lei 10.639 de 9 de Janeiro de 2003. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicos Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. MEC/SECAD. 2005.

D’AMBRÓSIO, U. Etnomatemática: Elo entre as tradições e a modernidade. 5. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

FORDE, G.  H.  A. A presença africana no ensino de matemática: análises dialogadas entre história, etnocentrismo e educação. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, Vitória, 2017.

KATZ, V. J. Egyptian Mathematics. In: História e Educação  Matemática. Associação de Professores de Matemática , V 1. Braga - Portugal, jul.1996.
ROQUE, T.; CARVALHO, J. B. P. Tópicos de História da Matemática.  Sociedade Brasileira de Matemática,  2012.[ Coleção on-line do PROFMAT].


PEREIRA, Ana Cristina Silva Pereira.  A História da Matemática Egípcia e sua Ressonância no ensino. 2019. 46 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Instituo Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, Pouso Alegre 2016-2019.

PEREIRA, Silvia Patrícia da Silva. A Influência da Cultura Africana no ensino de Matemática. 2019. 59 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Instituo Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, Pouso Alegre 2016-2019

IMAGEM: Disponível em <https://www.matematicaefacil.com.br/2016/08/matematica-continente-africano-sona-desenhos-matematicos-areia.html?m=1> Ultimo acesso 15/06/2020.

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