Willian
José da Cruz[1]
Silvia
Patrícia da Silva Pereira[2]
Ana
Cristina Silva Pereira [3]
Matemática
Africana quando e onde? Esta questão parece muito pertinente. Quando e onde está
sendo discutida a Matemática Africana no ambiente escolar? Nas aulas de Matemática?
Este texto está baseado nos trabalhos de conclusão de curso de Ana Cristina e
Silvia Patrícia, orientada e co-orientada por Willian Cruz, que fizeram estudos
sobre a Matemática Egípcia no ensino de Matemática e o multiculturalismo com
ênfase na introdução da Matemática Africana no ensino.
A Lei nº 10.639/2003 tornou obrigatório o ensino da
história e da cultura afro-brasileira, bem como da história da África e dos
africanos nas escolas públicas e privadas do Brasil. Essa temática, na maioria
das vezes, fica restrita à disciplina de história, em sua grande maioria, mas
deveria perpassar todas as disciplinas. Não podemos responder por outras disciplinas,
mas em relação à Matemática, o que se percebe é que não há um trabalho
explícito nesta direção.
Na América Latina, as
lutas pelo reconhecimento das diferenças sociais e culturais possuem uma longa
história. Um marco significativo desta história se instaura no Brasil com a
constituição de 1988 e sua defesa a favor do multiculturalismo brasileiro.
No Brasil, vivemos em
uma sociedade composta por distintas raças, religiões e padrões culturais. Nesse
conjunto de diferenças surgem os conflitos. Parte deste problema é reflexo da imposição de
uma cultura e/ou uma raça que a sociedade e consequentemente a escola apresenta
sobre outra.
D’Ambrósio (2017),
afirma que o multiculturalismo está se tornando a característica mais marcante
da educação atual devido à grande mobilidade de pessoas e famílias, e, para
ele, as relações interculturais se tornarão muito intensas.
No âmbito educacional,
a escola sempre teve dificuldades em lidar com a pluralidade e a diferença.
Pois tende a silenciá-las e neutralizá-las. Sentem-se mais confortável com a
homogeneização e padronização impostas pelo poder das elites.
Assim uma das questões fundamentais que são
urgentes para serem trabalhadas no cotidiano escolar é a diversidade, pois há a
necessidade de proporcionar aos alunos conhecimentos das diversas culturas do
país, ampliando o saber nos diversos tipos de manifestações culturais de cada
grupo.
As atividades
educacionais que produzam conhecimento sobre diversidade cultural, tanto na
escola quanto fora dela, são essenciais para ampliar e fortalecer os debates
contra a discriminação racial. A escola não pode se tornar um instrumento de
reprodução de preconceitos, mas sim um espaço no qual se promova e valorize a
diversidade que enriquece a sociedade brasileira.
Como desenvolver esse
debate em aulas de Matemática? A História da Matemática nos oferece um campo de
discussão bastante significativo para o debate e a valorização de atividades
desenvolvidas pelos povos africanos. A Matemática Africana é pouco abordada em
aulas de Matemática tanto de escolas públicas quanto de escolas privadas.
Quando nos referimos a
História da Matemática, para alguns vem à mente a Matemática Grega, mas com um olhar mais atento aos nossos
estudos, vamos encontrar, por exemplo, os povos egípcios, que quase sempre são
tratados como se fossem separados do continente africano. Pouco se observa a
relação entre a civilização Egípcia e a África Negra.
Roque e Carvalho (2012)
dissertam que entre os povos antigos os egípcios foram bons matemáticos, apesar
da ausência de sistematização rigorosa e não empírica. Contudo, entendemos que
esta cultura, também tem um amplo saber cientifico.
Katz (1996) disserta
que a civilização egípcia data de cinco mil anos ou mais. Embora
existam poucos documentos que datam desse período, há evidências arqueológicas
de que os egípcios desenvolveram alguns conceitos matemáticos básicos no início
do tempo.
Os principais
documentos matemáticos egípcios que existem datam da primeira metade do segundo
milênio. Forde (2017) afirma que o Egito Antigo nos concedeu
inúmeras fontes que deixam evidentes os registros sobre a anterioridade do desenvolvimento
matemático africano. Assim, a Matemática, junto com todo o conhecimento
egípcio, chegou a nós por meio dos hieróglifos gravados em papiros. Dentre eles
os mais importantes são: o Papiro de Rhind
ou Ahmes, datado de 1650 a.C (é um
texto matemático na forma de um manual prático, contendo 85 problemas
matemáticos), que pode ser visto no Museu Britânico em Londres na Inglaterra; e
o Papiro de Moscou com data de 1850 a.C (um texto matemático com 25 problemas
matemáticos), localizado no Museu do Estado de Belas Artes Pushkin em Moscou na
Rússia.
Rússia.
Estudos apontam que há alguns
esforços por parte de professores de matemática, na tentativa de realizar inclusões
de atividades pedagógicas que envolvam o conhecimento da História da África. No
entanto, por vezes a própria instituição não se empenha na promoção de um
ensino voltado para a diminuição das desigualdades étnico-raciais.
A influência da cultura
africana, favorecendo o ensino e a aprendizado da Matemática, fundamentada numa
concepção etnomatemática, pode facilmente ser observada por meio do uso de
jogos e materiais concretos, pois esta é uma das maneiras que possibilita a
realização de um trabalho transdisciplinar e intercultural nas aulas de
Matemáticas.
Para
além de todas as técnicas e conhecimentos da Matemática Africana, ressaltamos a
urgência na valorização do negro quanto produtor de conhecimento matemático que
deu base ao desenvolvimento de várias sociedades, inclusive a nossa.
AUTORES:
[1] Doutor em Educação Matemática pela Universidade Anhanguera de São Paulo (UNIAN - SP). Professor efetivo do Departamento de Matemática da Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: williancruz990@gmail.com.
[1] Doutor em Educação Matemática pela Universidade Anhanguera de São Paulo (UNIAN - SP). Professor efetivo do Departamento de Matemática da Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: williancruz990@gmail.com.
[2] Licenciada em Matemática pelo Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, Campus Pouso Alegre – IFSULDEMINAS. E-mail:
silviabemol@hotmail.com
[3] Mestranda em Educação em Ciências pela Universidade Federal de Itajubá,
Campus Itajubá (UNIFEI). E-mail: thafnes@hotmail.com
REFERENCIAS:
BRASIL,
Lei 10.639 de 9 de Janeiro de 2003. Ministério da Educação. Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicos Raciais e para o
Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. MEC/SECAD. 2005.
D’AMBRÓSIO, U. Etnomatemática:
Elo entre as tradições e a modernidade. 5. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.
FORDE, G. H. A. A presença africana no ensino de matemática:
análises dialogadas entre história, etnocentrismo e educação. Dissertação
(Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade
Federal do Espírito Santo – UFES, Vitória, 2017.
KATZ, V. J. Egyptian Mathematics. In: História e Educação Matemática. Associação de Professores de
Matemática , V 1. Braga - Portugal, jul.1996.
ROQUE, T.; CARVALHO, J. B. P. Tópicos
de História da Matemática. Sociedade
Brasileira de Matemática, 2012.[ Coleção
on-line do PROFMAT].
PEREIRA, Silvia Patrícia da Silva. A
Influência da Cultura Africana no ensino de Matemática. 2019. 59
f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Instituo Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, Pouso Alegre 2016-2019
PEREIRA, Ana Cristina Silva Pereira. A História da
Matemática Egípcia e sua Ressonância no ensino. 2019. 46
f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Instituo Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, Pouso Alegre 2016-2019.
IMAGEM: Disponível em <https://www.matematicaefacil.com.br/2016/08/matematica-continente-africano-sona-desenhos-matematicos-areia.html?m=1> Ultimo acesso 15/06/2020.
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