quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Mídia e reflexão

ABC renova Black-ish para sexta temporada e anuncia novo spin-off ... 

A série norte-americana Black-ish, lançada em 2014 e atualmente com 5 temporadas, foi aclamada pela crítica desde a sua estréia pela emissora ABC. Comédia indicada ao Emmy três vezes. Retrata-se a história da família Johnson, constituída pelo Dre Johson (Anthony Anderson), um executivo de publicidade com enorme reconhecimento no mercado, e também marido da personagem Rainbow Johnson (Tracee Ellis Ross), médica cirurgiã, e que juntos criam seus 4 filhos, como nota-se a partir da primeira temporada.  

Considerada uma sitcom que tem como foco a família Johnson, esta sendo a única família negra de classe média alta do seu bairro e que transita em ambientes majoritariamente brancos, revela-se nesse viés um narrativa incomum de ser abordada nesses conteúdos midiáticos e que dentre outros motivos a fez ter tanta evidência. 

A primeira temporada possui como cerne primário enfatizado nos primeiros episódios da trama a busca do Dre Johson, o pai, em elucidar para seus filhos sobre assuntos acerca da construção de identidade étnica racial, tendo em vista que seus filhos por terem sido criados em meios embranquecidos e não terem tido um contato mais próximo com esta discussão, não havia um reconhecimento por parte deles enquanto pessoas negras. 

As variadas temáticas abordadas pela série em cada capítulo perpassam temas dentro da negritude, ressalto que a negritude perpassa em todas as discussões da nossa vida, mas que não somos apenas definidos por ela. A trama emerge em assuntos como conflitos familiares, afetividades, maternidade, paternidade, afetividades, educação sexual, questões de construção de identidade, além de interseccionalidades de marcadores sociais, colorismo, apropriação cultural e as discriminações praticadas pela polícia. 

Assim, sendo uma pessoa que atualmente vem consumindo este conteúdo, começo a realizar uma reflexão quanto às minhas expectativas que convergiram e divergiram até no momento antes da série se iniciar e ao longo dela. Em primeira instância, possuía a consciência de que a trama se baseava em uma família negra, nisso as primeiras expectativas foram criadas e a partir de então foram se desenrolando por meio dos episódios. Algo que quebrou minha expectativa no primeiro episódio da primeira temporada, foi certamente a insistência do personagem Dre de se referenciar a esposa, Rainbow, como mestiça. Posterior a isso, como uma série de comédia detectei diversos 'insights' inteligentíssimos, advindos principalmente dos filhos. 

Pesquisando outras críticas acerca dessa sitcom, deparei-me com uma em especial que colocava esse tipo de representação mediática como um desserviço a representatividade de uma família preta de classe média alta, tendo como principal justificativa o posicionamento de um dos protagonistas,  Dre (Anthony Anderson), um posicionamento que seria este conservador e de que levantava de modo frequente questionamentos sobre categorizar atos, características, comportamentos através da dicotomia se isso pertence a branquitude ou negritude. Isto é 'coisa de branco, ou 'isto é coisa preto'. E que nessa crítica isto foi algo a ser problematizado. 

Diante a essa crítica reflito sobre esse modelo familiar na realidade brasileira, pensando nas adversidades sobre a ascensão financeira de famílias negras no nosso país, o que se torna evidente a ausência visível destas nesse patamar financeiro. E além do mais, é interessante constatar que os poucos núcleos familiares que chegam a obter este poder aquisitivo geralmente formam a primeira geração de toda uma linhagem a ocupar um lugar que na perspectiva da sociedade fomentada a partir do racismo institucional não seria um ''lugar de negro''. Sem referências, estes núcleos com suas todas singularidades e especificidades encontra-se ocupando novos espaços. E portanto, mesmo a série sendo norte-americana, acredito na relevância da representatividade da negritude nesses moldes. 

E uma outra discussão considerável seria sobre repensarmos as constituições de família negra, refletindo por meio desta chamada Black-ish, de que ali é uma família acima de qualquer outro fator e que nesta perspectiva elas não estão imune a erros, além do mais estamos falando sobre sujeitos no mundo também. Ademais, será que estamos procurando estratégias de humanizar estas personagens e principalmente, as pessoas na nossa realidade, aproximando elas de um processo de humanização ou será que estamos criando um modelo de negritude que não amplie para nossa multiplicidade de sermos e existirmos enquanto pessoas e famílias negras? 

Deixo algumas reflexões acima sobre o que esta série me despertou e a recomendação dessa sitcom para abrir espaços de discussão sobre diversas temáticas relacionadas à negritude e obviamente como uma boa série de comédia para darmos boas gargalhadas. 

- Andressa 

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